Dia 16 entrevistei Joelson Silva Cardeal de Miranda, 32, mais conhecido como Jó Miranda. Cantor, compositor e sanfoneiro, Jó iniciou sua carreira solo em 2008, caminha para o seu quarto disco e planeja o lançamento do seu primeiro DVD em 2012.

Início de tudo

Jó Miranda contou que sua formação musical foi na prática, olhando e aprendendo.

“Meu irmão mais velho é tecladista e pianista, comecei ajudando ele nos shows. Logo depois fui ser percussionista em uma banda dele, depois fui tecladista e comecei a vim em Salvador tocar com os artistas do Axé Music. Recebi uma proposta para trabalhar em uma banda de uma das maiores gravadoras de Salvador, WR DISCOS, onde eu realmente amadureci profissionalmente, produzindo discos, arranjando…aprendi a parte de gravação e edição de música. Daí pra frente eu recebi convites pra tocar em outras grandes bandas.”

A Sanfona na vida de Jó Miranda

 “Meu avô era sanfoneiro, mas eu não o conheci. Meu pai tinha sanfona em casa desde sempre, mas justamente quando meu pai vendeu a sanfona, eu comecei a me interessar. Aí com muita batalha eu comprei minha primeira sanfona, uma sanfona digamos que amadora. Hoje essa sanfona tem mais de 150 anos.”

Jó Miranda disse que sempre gostou de forró, mas que gostava mesmo era de brincar a festa junina. Ele começou a tocar acordeon na brincadeira, no interior, em uma festa chamada Forró do Calango, que começou em uma garagem, apenas entre amigos. Essa brincadeira foi evoluindo e Jó Miranda começou a receber convites para tocar em bandas. Ele já toca sanfona há sete anos.

Início da carreira solo

Jó Miranda acompanhou artistas como Carlos Pita, Zelito Miranda, Zé de Tonha, dentre outras bandas de forró. Até que em Abril de 2008 ele recebeu um convite da antiga Bicho da Cara Preta, hoje Cacau Produções, pra lançar sua carreira solo cantando e tocando acordeon.  Ao topar a proposta, Jó Miranda saiu com uma agenda boa de shows. Nessa época ele foi selecionado pra o Festival Nacional de Forró de Itaúnas, onde foi um dos ganhadores.

“Forró sempre esteve em minha vida, 80% do repertório que eu tenho de forró é da minha infância, das festas juninas do interior, meu pai também gostava muito de forró, tocava os vinis de Gonzaga e a minha especialidade hoje é tocar Luiz Gonzaga. Depois que eu recebi a notícia que o Trio Nordestino ia grava duas músicas minhas, eu comecei realmente a estudar o Trio Nordestino também, porque eu só conhecia o superficial, mas hoje eu estou bem familiarizado com a história passada e com o presente do trio.”

 

A carreira

“Dentro da profissão mesmo eu vim amadurecendo, aprendendo, aquela história de cai e levanta. Tenho minha essência musical, sou tocador de acordeon, sou cantor e compositor de forró pé-de-serra.”

Assim como a sanfona, a composição na vida de Jó Miranda teve início como brincadeira. Até que em 2007 ele compôs sua primeira música, um xote chamado “Lembro”, mesmo nome do seu primeiro disco. Ele disse que essa música chegou a tocar muito nas rádios comunitárias e do interior, teve uma aceitação muito boa.

Em 2009 Jó gravou outro disco, com musicas próprias e de outros compositores: Targino Gondim, Elvis Pimentel, Beto Souza e Flávio Leandro. Daí surgiu o convite para ir para a primeira edição do Festival Internacional da Sanfona, que não é um festival de forró, mas é voltado para todas as possibilidades da sanfona. Daqui da Bahia só teve Jó Miranda e Cicinho de Assis no evento.

De 2008 para cá Jó Miranda já lançou três discos: “Lembro”, “O povo quer forró” e “O povo quer forró – ao vivo”.

A realidade de Salvador

Jó lamenta que na Bahia não exista um público de forró e acredita que a justificativa para essa realidade é a falta de divulgação do forró.

“Existe um público de São João. Entre as quatrocentas e poucas cidades da Bahia, pelo menos trezentas fazem festa no São João, mas se você for fazer uma festa de forró hoje dentro da capital, falando de forró pé-de-serra, você tem que colocar as grandes bandas do momento para colocar 3 mil, 4 mil, pessoas, que pra uma capital é um nada. Se for falar de forró roots, nosso público cativo hoje é de 300 pessoas. Temos que fazer a maior divulgação do mundo, trazer trios de fora para chegar a 500 pessoas e ainda correr o risco da festa só pagar os custos.”

Jó também contou sobre as dificuldades enfrentadas por músicos e produtores de Salvador:

“A grande diferença lá no Sudeste é que há um circuito. Então se você está no Rio e quer ir pra São Paulo, pra Minas…é tudo muito perto. Então os artistas fazem o circuito indo e voltando, ai fazer um show com as bandas que estão em destaque no circuito tem um custo muito menor lá no Sudeste.”

Quando perguntei a Jó sobre a relação entre os artistas locais e o púbico de forró pé-de-serra de Salvador, ele disse que o público deveria repensar sua relação com os artistas que têm porque não é fácil trazer bandas de fora pra Salvador:

“Existe aquela coisa também de o santo de casa não fazer milagre, é um ditado velho e em nenhum lugar isso muda. As bandas de fora vêm pra cá e o público fica desesperado, sendo que tem bandas daqui que fazem o mesmo som, mesma qualidade, repertório. Quando essas bandas de fora tocam em suas cidades, isso não acontece com a mesma intensidade, aí quando eu fui tocar lá fora esse desespero do público aconteceu comigo.” [risos]

Diante dessas dificuldades Jó acredita que atualmente o melhor para a sustentabilidade de um músico de forró pé-de-serra de Salvador é fazer um bom São João e no decorrer do ano fazer eventos pequenos para estar sempre com o nome em evidência e ganhar uma grana por fora. Ele disse que a maioria dos músicos de forró pé-de-serra de Salvador têm empregos fixos, não vivem só da música e que, nesse contexto, ele é uma exceção.

Jó Miranda hoje

“Esse ano eu gravei um DVD, mas só vou lançar ele em 2012, tô querendo fazer um mega evento pra lança-lo. Além disso, estou começando a pré-produção de um CD em homenagem ao Trio Nordestino, só vão ter músicas gravadas por eles no CD e as minha duas músicas que eles gravaram. Estou vendo quais participações teremos.”

Atualmente Jó está comum projeto aos Domingos, no barzinho Whiskritório.